[Misbehaviors]

"Nothing can come of nothing."

12:17

The Antichrist.

Postado por Uncool |

Nature is Satan's church.


Ponto positivo para Lars Von Trier. Ponto negativo para a crítica.


Acabei de assistir ao "O Anticristo". O filme não é tudo isso de chocante que o povo fala, já vi piores. Até a cena de mutilação sexual não é tão forte e nem tão chocante. Claro, algumas cenas você até fica meio incrédulo, mas nada que você irá demorar dias para digerir.

O filme, ao contrário do que muitos classificam, não é terror nem de longe, é um grande drama, com uma complexidade psicólogica iniguálavel. É o tipo de filme que você não tem que entender, apenas sentir as sensações provocadas e se virar com elas.

O terror, aqui existe na mente e no imaginário dos dois personagens. Ele não está nas imagens, e sim nas atitudes doentias desse homem e dessa mulher que se machucam de todos as formas, verbal e fisicamente. Assim Lars explicita a pior face do terror.

Sinopse: Um casal devastado pela morte de seu único filho se muda para uma cabana isolada na floresta Éden, onde coisas estranhas e obscuras começam a acontecer. A mulher é uma intelectual escritora que não consegue se livrar do sentimento de culpa pela morte do filho, e ele, um psicanalista, tenta exercer seu meio de trabalho para ajudar a esposa.

É na casa isolada que a personagem de Charlotte passa do desespero ao desequilíbrio e o casal começa a viver em meio a um inferno de acusações, medos e culpas. O sexo e a violência entram na equação, e o que antes era uma longa discussão vira um embate físico digno das produções de tortura, a diferença é que Lars Von Trier não estiliza as mutilações, o que as torna mais aterrorizantes e realistas.

Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe dão um show de interpretação, Charlotte ainda mais que Willem, que continua com o seu jeito canastrão-Francisco-Cuoco de ser, mas mesmo assim o filme rende boas atuações.

As personagens não tem nome, o que, na minha percepção dá o significado de ser qualquer um. Pode ser eu, você, aquele ali... Ou seja, qualquer um de nós estamos passíveis de sofrer com a natureza humana.

O filme contém elementos religiosos e coloca a cristandade em cheque: A premissa é: E se a natureza fosse criado pelo Anticristo? A natureza humana é colocada como essencialmente maligna e que a natureza, tanto física quanto do ser humano é a igreja do diabo. Sem mencionar que existe uma alusão aos Três Reis Magos, que no filme são colocados como Os Três Mendigos, representados por animais, que no filme, quando vai acontecer um assassinato, é revelado que este ainda não acontecerá, e que só será possível quando os Três Mendigos chegarem.

Não menos curioso é o fato de a floresta de chamar Éden e ter apenas um casal como protagonista da trama: A minha leitura é que Adão e Eva expulsos do Paraíso voltam ao Jardim do Éden para um acerto de contas final, expurgando assim todos os pecados e exorcizando todos os demônios. Claramente podemos ver Adão e Eva retratados no casal que se isola na floresta, impulsionados pelo fato da morte do filho, que os tira da zona de conforto em que vivem.

Diferente da proposta de seus outros filmes, com câmeras no ombro e imagem o mais natural possível (herança do movimento Dogma), aqui, em Anticristo, ele investe na estética.

O filme é divido em capítulos:

1º) Prólogo;
2º) “Luto";
3º) "Dor (Caos Reina)";
4º) "Desespero (Genocídio)" e,
5º) "Os Três Mendigos"

O Prólogo é de uma magnitude infinita. Uma das melhores cenas já vista no cinema, tudo em camera lenta, em branco e preto, poético e lírico. A música de fundo, neste prólogo, compõe a ironia: Lascia Ch’io Pianga, de Händel, com interpretação da soprano norueguesa Tuva Semmingsen, fecha uma das cenas mais belas dos últimos tempos.

Lars Von Trier não é um cineasta fácil. Ele não faz filmes para agradar, mas sim para questionar, seja o próprio modo industrial de produção cinematográfico, ao inovar estética e narrativamente; seja uma sociedade que ele considera medíocre e em decadência, ao usar seus filmes como painéis que a criticam sem pena. Independente das intenções, seu cinema é o de extremos: ama-se ou odeia-se, mas não dá para ficar em cima do muro. Seus filmes também não são de fácil leitura e, geralmente, demandam algum tempo até serem digeridos. Juízo de valor - "gostei" ou "não gostei" - é o que menos importa aqui e não está nem mesmo em questão.

Quando chega ao fim, "Anticristo" deixa um gosto amargo na boca e, ao mesmo tempo, um certo alívio. A tortura e a via crucis dos personagens e do espectador terminam. Mas, para o bem ou para o mal, as fortes imagens ficam na memória. Lars Von Trier conseguiu mais uma vez. Expiou seus medos, torturou seus personagens e incomodou o espectador. Cinema para Von Trier é isso.

Literalmente um filme para ser enfrentado aqui: http://www.megaupload.com/?d=4NRS5CZJ

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