[Misbehaviors]

"Nothing can come of nothing."

01:19

Fuck It.

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Go for it...


Quero que todo mundo se foda! De preferência com amor! - Magno Batista Corrêa.

Foda-se. Não é uma oração. Não é um mantra e nem ritual de libertação.

Muitas vezes a gente nota que não precisa de nada para ficar bem, só que a gente comete a besteira de imaginar que precisa de alguém para ser feliz. Foda-se. Ninguém precisa de nada. A gente nasce sem nada e tem muita gente que morre sem nada e esse nada não faz falta e vai continuar não fazendo nada, tipo, merda nenhuma.

We raise up, this offering.

This is a gift. Pois é. If you could only see the beast you made of me.

Não. Foda-se. Você não criou nada e não vai ver nada.

Nada. Já deu pra perceber que isso é nada, né? Mas tipo assim: O nada é nada, e nada igual a nada é nada. Nada vezes nada continua nada e nada dividido por nada, nada é. Nada soma, nada acrescenta, nada multiplica e tudo divide. Matemática estranha e maldita. No final das contas, você divide e não são dois pesos e duas medidas.

Então, pra mim não tem mais diferença.

In the crownd I see you and someone else.

E esse alguém é qualquer um. Foda-se. Não me importa quem seja. De novo: Foda-se. O coração eu guardo pra mim. O corpo? Pode levar, afinal de contas o mundo e a ordem cronológica das coisas vai comer. Mas e o coração? Foda-se. O mundo se lembrará de mim por ele e esse, ninguém mais toca.

This is a gift, and comes with a price.

Ah, foda-se. A inspiração passou. Eu ia falar das relações de bolha de sabão, mas todas as ideias estouraram, como elas, que no menor movimento do ar, ou vibrações, independente da origem se estouram.

00:16

Green.

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The acronym in shades of green by the vital prism of cosmic energy.


Heaven restores you in life - Interpol. (I've already told you that)


- Então aqui está você, perdido, olhando a relva.
- Uma vez me disseram que a natureza resolve todos os nossos problemas.

- Sim, o tempo define as coisas e a natureza se encarrega de resolver tudo, à sua maneira.
- Outra vida nasceu em mim depois que te encontrei.
- Uma outra vida mais feliz? Mais triste? Mais verde como a relva?

- Lá, além daqueles caminhos, vales e depressões, dizem que o verde representa a esperança.
- Outra vida com mais esperança?
- Uma outra vida com a esperança de que nada dará errado.
- Como assim?
- Outra vida com a certeza de que você me faz bem e que com a esperança de que te faço o mais feliz do mundo.

- Poderia ser diferente?
- Ora, poderia ser o contrário: Eu não ter esperança alguma de te fazer bem e você me fazer mal.
- Retornamos assim ao ponto de partida, quando você não tinha esperança e eu não fazia bem a ninguém.

- Voltemos então ao ponto atual.
- Os teus olhos me fazem ver a pessoa maravilhosa que você e o quanto eu quis você nessa vida.
- Como nós quisemos.
- E assim será. Será até o momento em que eu respirar.

- E como será depois de lá?

- Vai ser como tem sido até agora. Intenso, incrível, colorido e imensamente feliz.
- Ou até melhor. Isso que você descreveu é o que acontece sempre, e tudo pode melhorar.
- Consegue entender agora o sentido da esperança e do verde?
- Está claríssimo, como os seus olhos, que parecem água límpida.

- Na verdade, você é a representação do bem e da pureza para mim.
- Ainda imaginando como um Deus Grego?

- Faz todo o sentido para mim.
- Acredito que faça.
- Zeus. Zeus e Afrodite. Entende? Somos dois deuses nas nossas vidas. Temos o poder de fazer dar certo.

- Ideal e agora entendido.
- Devo dizer que tenho por você sentimentos que nunca tiver por qualquer outra pessoa.
- E agora, qual é o próximo passo?
- Incompreendido por você ainda. Não tenho pressa, e quero viver com você tudo que for preciso.
- A convivência existe e todo o resto também.

- Dessa forma você só me faz entender que agora sou completo.
- Exatamente.

- Como esse verde me faz bem!
- Olho esse verde e vejo essa energia fluindo pra você.
- Mas você mal sabe que ela também flui de você, direto pra mim.
- Ou flui de você para mim. Esse fluxo nós não temos como entender. Faz parte do universo.

- Não quero entendê-lo. Basta que exista.
- Ainda bem.
- Os mistérios devem permanecer ocultos, ou a razão destrói a sua misticidade.

- Claro que não quero que sejam destruídos.
- O segredo é não pensar neles.
- Não penso. Pensar nos mistérios é praticamente o mesmo que formular explicações inconscientemente.
- Sabe, desde que eu estou com você, eu não penso em mais nada. Só em como o mundo fica incrível.
- Incrível é você no mundo. E com tanta gente, você está do meu lado.
- Grande é o meu desejo de mostrar para você que estou do seu lado sempre, nem que seja para segurar sua mão.
- O melhor guia e o melhor mundo.

- Vamos ver grandes coisas, viver grandes situações e o meu sentindo por você não mudará.
- Isso é tão bom de se ouvir.
- Você vai ver. Eu tenho certeza. Estamos olhando a relva. Você tem dúvidas disso?
- Eu não. Eu estou em sintonia com a relva tanto quanto você.
- Realmente. Eu também consigo sentir.

- Sonhei tanto com você.
- Eu tive tanta certeza que ia te encontrar.
- Mas eu nunca duvidei.

- Outra vez. Eu sinto como se tivéssmos nos encontrado aqui, nesse lugar antes.

- Sim. Isso se chama encontro de almas.
- Eu acredito nisso. Acredito que apenas nos reencontramos.
- Um momento recuperado nessa vida que foi perdido em outra.

- Só que a diferença é que esse momento é eterno.
- Ou eterno é o momento.
- Realçando a beleza.
- Realçando os sentimentos.
- I'm yours.
- So do I.
- On this life. And at the others too.

- Eu quero te dizer uma coisa.

- O que?
- Seu sorriso me faz acreditar na beleza do mundo. E os seus olhos, na imortalidade da alma.

- Sério?
- Eu nunca falei tão sério. Nos seus olhos, eu consigo exergar o meu amor da vida passada.
- Um reencontro de almas então.
- Sim. Um reencontro

- Ou uma eternidade em um único olhar.
- Levemente acomodada em um único sorriso.
- Humildemente enternecida em um único carinho.
- Ou seriamente disposta em um único caminho.
- Sendo o reencontro único de duas almas errantes.

- Depois de você, não há mais nada.
- E tendo você do meu lado, tudo faz o maior sentido.

- Como você esteve tão longe tanto tempo?
- Olha, eu apenas estava esperando por você.
- Radiante, é isso que você é. O raio de Sol que ilumina o verde da relva da minha vida.
- Cálido.
- Ardente.

23:50

Books, Voyages & Madness.

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The Drug.


Surreais Porres Literários

Porre literário?!?!? Um porre literário não é aquele que te faz perder o ponto que vai descer quando você está dentro do ônibus ou gastar o limite do cheque especial em livrarias. Claro que todos nós, literaholics ou bookaholics já passamos por isso e por coisas muito mais estranhas ou curiosas em algum momento de nossas vidas. Não, não. Não irei me ater nisso. O porre ideal é aquele que não te deixa depressivo depois, é aquele que te move para o próximo sem deixar nenhum vestígio de culpa e nem faz que ela fique velada para o momento oportuno.

Os meus porres literários são sempre surreais: eles sempre confundem a minha cabeça e fazem uma amálmaga com a minha personalidade. Ao final, nunca sei se sou um personagem ou se eu mesmo, às vezes, quando chego ao limite da overdose, eu nem sei o que sou. Sei que sou alguma coisa, melhorada, óbvio, pois a literatura é a única coisa que salva vidas e se torna força motriz para seguir em frente e enfrentar as situações adversas da vida.

Sem mais delongas! Quanto ao porre em si, já cheguei a um nível de dependência literária tão grande que tenho uma meta de 15 livros a serem comprados no mês e uma meta de 130 lidos por ano.

Eu dependendo de personagens, dependo de letras e palavras pra me compor, sem elas, nunca fui nada, nada sou e nada serei.

Eu já jantei com Frida Kahlo e experimentei os seus pratos de comemoração do Dia dos Mortos, em homenagem à sua madrinha, Morte. Já me perdi nos matizes das suas cores e ao final não sabia se eu era verde-bandeira ou amarelo-canário. Já participei do circo itinerante e morei em Santa Maria do Circo, como o ilustre e grande mago adivinho. Participei das andanças do Jesus Cristo e Caim de Saramago, olhando de frente a morte dos santos católicos até contrair a cegueira branca, com que fizesse que eu não enxergasse que o mais imprescindível estava perto e não além-mar, procurado com a barca do Rei, com foi feito. Eu já odiei o ano de 1984, que fez com que eu me sentisse invadido em 2011, mas odeio duplamente 2011 por ter sido previsto em 1984. Já confundi a minha sexualidade na convivência com Orlando a acreditei no amor puro e sem restrições entregando pizzas com Elvis, para logo após encontrar sua amada Madonna. Eu também estive na idade média, conversando com Adso Melk e ajudando os escribas em cópias manuais de livros. Me envolvi em teorias conspiratórias relacionadas aos templários, os cátaros e outras sociedades secretas, em Paris, bem abaixo do Pêndulo de Foucault. Já fui o marido atormentado de Dostoiévski, o clérigo atormentado de Tólstoi e os deuses do panteão hindú. Já tive o prazer de matar e discursar junto com a monarquia britânica e visitar a Bahia de Jorge Amado, almoçando com Dona Flor, chorando as mágoas com Tereza Batista, rindo da vida com Tieta e apreciando o Candomblé com Iansã.

E eu sei que ainda serei muitas coisas, farei e passarei por muitas coisas, isso, quem vai me ditar, é o próximo porre, que vai me transformar e me deixar exaurido até que eu me recupere e fique pronto para a próxima.

E eu quero que alguém aponte o dedo na minha cara e diga que isso viagem é ou loucura.

03:28

(Un)delivered letter.

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The Agony.


Sooner or later in life, the things you love, you loose - Florence and the Machine.

Quase como uma carta aberta. Mais do que isso, um grito sufocado. Algo entre uma dor excruciante e suavidade de um sussuro. Dói, e dói bastante. A omissão fez com que tudo tomasse essa proporção. É aquele famoso caso do "e se". Por aqui derrubo o mito do "me arrependo somente do que eu não fiz". Essa convicção caiu por terra no momento exato em que a razão e a emoção sublimaram o erro. Não, um grito não resolve, simplesmente pelo fato de não conter palavras, mas apenas sons insignificantes e guturais. Nada de articulação, nada de entonação ou colocações. E se eu não tivesse feito? E se eu não tivesse errado. E se? E se? E o eco? O eco continua exercendo a sua função de reverberação, mas não externa. Internamente. Reverbera como uma pedra jogada em meio a um lago, aquela que causa a vibração interna, só que nesse caso, reverbera pelo corpo e atinge o ponto vital, fazendo com que o orgão senhor da emoção e da vitalidade incline-se peramente ao sentimento, aquele que faz com que seja concebido a dimensão de uma determinada situação.

Eu me arrependo sim, e aqui faço o mea culpa. Única e exclusivamente minha. E faço isso de cabeça extremamente baixa, pois jamais levantarei os olhos para olhar o destino de frente, por mais que eu tinha sido o executor da manobra falha em que tornei-me vítima. Tornei-me vítima dos meus próprios atos e reflexões sem fundamentos. Eu não me orgulho, eu não me declaro réu. Eu sou o executor, que executou a própria dor, em vários ambitos. Enquanto executor de julgamento falho, não consegui distinção. Consegui apenas destruir sinceras verdades com um único golpe de falta de caráter. Em nenhum momento eu menti, as palavras ditas expressaram o que hoje eu tenho certeza. Expressaram a única coisa verdadeira nesse caos de omissão que eu criei. Hoje me dou conta que a verdade das expressões eram poderosas, tanto que as premissas continuam autênticas. Ato falho e palavras proferidas por impulso perdem o valor. Se o dito fosse o não dito figuradamente, hoje não teria comigo a certeza das afirmações. Eu só queria gritar que continuam sendo altamente ipsis literis, mas a voz não sai. O grito fica engasgado no fundo da garganta, sufocado. Eis então o sussuro, aquele que arranha o fundo da gargante e enche os olhos de lágrimas, estas que correm livremente pela face envelhecida pela ação do tempo, que faz questão de mostra-se impiedoso.

Sim, eu sinto falta, eu sinto arrependimento, eu choro e sufoco no meu silêncio. A cada momento a lembrança de situações eternizadas. Eu lembro do momento que fui levantado do chão, eu lembro do primeiro beijo espontâneo, do primeiro abraço, da primeira vez que as mãos se tomaram, do primeiro café, da primeira confissão, da primeira risada, da primeira piada e da primeira noite. Nâo há como esquecer e não há como negar. A importância é crucial. A cada momento, como um filme em sépia, eu vejo esses momentos, que desfilam na minha frente, e, em cada olhar pra qualquer lugar, em qualquer pensamento, sou invadido. E eu não reclamo dessa invasão, muito pelo contrário, ela é bem vinda, para estapear os dois lados da cara que um dia foi acariciada por aquele que merece o somente o melhor que existe. Tudo isso faz parte de mim, e como tal, é indissociável, sem a possibilidade de ser arrancado de mim, como o arrependimento e a vontade de voltar no tempo, com a finalidade de ter cuidado melhor daquele que esteve comigo.

Eu só queria dizer que não há substituição e nem justificativa. A falta é real e você vai continuar fazendo parte da minha história.

Desculpe por tudo.

02:31

Ocean of (nothing)

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The Fucked


Amazing, you're amazing, and I'm only O.K. - Johnette Napolitano.

Mãos formigam, braços não obedecem e tudo mais foi para o inferno quando você imaginou que o inferno era longe demais.
Não há o que ser feito. Não há reparação. São aqueles determinados momentos que a vida esfrega na tua cara todas as cagadas que vocês fez. É nesse momento que a cagada esfregada na tua cara tem efeito narcotizante.
Sim senhores, o buraco sempre é mais embaixo, sempre na vala mais profunda e há como se chegar mais embaixo. Fato consumado é que se existe um inferno, ele nunca será o bastante. Sempre será aquilo de mais fundo que o ser humano pode alcançar. Quanto mais você caga, mais você afunda. Quanto mais você afunda, mais fundo vai no inferno. Passando por várias valas.
Há muitas perguntas sem respostas, e elas todas continuarão sem. Sem nada, sem resposta, sem ênfase, sem entonação ou contorno. A única coisa que fica é o eco maldito na tua orelha, repetindo a mesma pergunta milhões de vezes, e fazendo você se sentir mais inútil do que você sempre acreditou.
Não odeio a vida, mas odeio o seu modus operandi. Não odeio as pessoas. Odeio as situações. Odeio atitudes. Odeio as minhas situações causadas pelas minhas atitudes. Tudo isso sempre deixa espaço pra foder com você em todos os aspectos, sem dó, em todas as posições. Em todos os ângulos, com toda volúpia e violência.
Odeio tremer por situações que não significam nada. Mas se eu tremo é de alguma significância. Eu não quero ficar sabendo. Eu não quero ver. Eu quero me trancafiar numa sala acolchoada, e não sair de lá pelos próximos cinquenta anos, ou pelo menos até a próxima era glacial.

E o eco
(perdeu)
continua com a sua tarefa árdua,
(perdeu o viço)
de jogar da minha cara
(perdeu o viço e a estrutra)
tudo aquilo que eu fiz,
(perdeu o viço e a estrutra, com a presunção)
sem piedade.
(perdeu o viço e a estrutra, com a presunção e arrogância.)
Não aguento mais essas vozes espectrais
(não)
me atormentado
(não há)
dia e noite sem descanso.
(não há salvação)
Eu definitivamente não mereço isso.
(não há salvação. Só o que você merece)
Mereço
(tudo)
Não sei o que eu mereço. Não sei mais de nada.
(nada)
(nada)
(nada)
(nada)
(nada)
(nada de tudo)
(nada para sempre)
(nada ordenado)
(n)ada estruturado
n(a)da compreendido
na(d)a absorvido
nad(a) completo

Eu (tudo fodido) sem perspectiva de melhora.

13:20

Likes and Dislikes.

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Bleeding



Eu não gosto do bom gosto. Eu não gosto de bom senso. Eu não gosto dos bons modos. Não gosto. Eu gosto dos que têm fome. Dos que morrem de vontade. Dos que secam de desejo. Dos que ardem
(Adriana Calcanhoto - Senhas)

Eu gosto de escrever o teu nome na ponta fina do lápis. Eu gosto de ver o brilho sincero. Não gosto de rísiveis amore, não gosto de excesso de rigores. Gosto de beijos sinceros e lealdade. Não gosto de mentiras sinceras e nem de hipocrisia velada. Gosto de intensidade, correspondência e abraços. Não gosto de três tapas nas costas, indiferença e frieza. Gosto de toques significativos e olhares expressivos. Não gosto do gosto de sangue amargo da desilusão e nem da displicência vil das más ações. Gosto de gostar pelo simples fato de gostar. Não gosto de chorar e de desgostar. Gosto de fortes cargas emocionais. Não gosto dos momentos em que elas ocorrem. Gosto de sentir saudades e declará-la. Não gosto me sentir colocado de lado, fugas e válvulas de escape. Gosto de segurança, tanto sentir quando transmitir. Não gosto de clichês, frases feitas e situações ilusórias, criando uma sensação de falsa segurança. Gosto de olhos, mas não gosto de sentir discursos não proferidos por meio deles. Gosto de impulsividade e atitude. Não gosto de imprecisão e indecisão. Gosto de atenção, não gosto da falta dela, em todos os aspectos. Gosto de fazer supresas, mas não gosto delas por perto. Gosto de telefonar quando tenho saudades, ou mandar mensagem, mas não gosto de chamadas não atendidas, caixas postais ou secretárias eletrônicas. Gosto de escrever, mas não gosto quando não consigo porque a visão está borrada por lágrimas e a cabeça ruim por conta das emoções. Gosto de desgostar, mas o pior ainda é que eu desgosto de gostar.

19:48

(Santa) Klaus.

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The Fallen Myth.


Oh Holy Night!

O mundo parou de acreditar em Klaus na mesma medida que Klaus deixou de acreditar no mundo.

Em uma manhã fria, Klaus levantou-se da cama e sentiu-se diferente. O mundo não era exatamente o mesmo como havia sido deixado na noite anterior. A neve ainda caía, mas caía negra, como pesadas cinzas de papéis queimados ao longe, o céu não exibia mais o sol costumeiro da tarde, mas sim era escuro, como se uma borracha suja houvesse tentado apagar um desenho feito por um lápis vagabundo, enquanto o vento soprava furioso, varrendo tudo em seu caminho. Naquele mesmo momento Klaus despertava e via o quanto sua vida estava decadente. Olhava pela janela e via animais mortos, via sacos de panos vazios e rasgados no jardim, seu carro estava totalmente inutilizado, enquanto dentro de casa, o caos reinava absoluto. Garrafas de bebidas baratas espalhadas pelo chão e pelos móveis, na cabeceira da cama havia carreiras de cocaína divididas milimetricamente com uma gilete e várias notas de valores irrisórios para o consumo, cartelas de remédios vazias tinham o seu espaço na pia do banheiro, assim como seringas, que dividiam espaço com os restos de comida, de semanas atrás sob a mesa da cozinha.

Tudo teve início na semana anterior, quando Nöelte, esposa de Klaus, resolveu abandoná-lo por conta de manias absurdas e também por conta de seu senso inabalável de bondade. Não havia mais sentido em engolir essa história de bondade, presentes e perdão para as crianças abusadas. Nöelte vivia reclamando, e era absolutamente contra isso. E quem a visse, diria que era a bondade em pessoa, com os seus traços finos, rosto de boneca de porcelana, gentileza no sorriso e graça e leveza nos movimentos, porém não era assim que funcionava. Era alcoólatra e ninfomaníaca, sem contar o apreço que tinha pela zoofilia, fato que pode ser comprovado pelas sequelas que as renas mortas do jardim tinham. Certa feita quebrou uma garrafa nas mãos por conta de um acesso de fúria enquanto uma das renas tentou escapar da investida sexual, de tão forte que era o seu temperamento.

Logo após o abandono, Klaus se sentiu incompleto e perdeu o viço pela vida. Assumiu o vício da bebida e dos entorpecentes, emagreceu devido a falta de alimentação, e não trabalhava mais. A decadência foi total, e tudo se tornou completo quando a sua caixa de correio começou a esvaziar sem motivo aparente. Não havia mais pedidos, não havia mais súplicas de presentes e nem redenções de atos involuntários. As crianças, por algum motivo, deixaram de escrever para Klaus.

Mas o motivo não era assim tão desconhecido. Em cada casa que havia uma criança, em cada lugar que havia uma imagem de Klaus houve a desistência de acreditar em sua existência. As crianças não lembravam mais do que as mais motivava, e todas as imagens, pôsters, cartões postais e de natal queimaram espontaneamente. Tudo isso aconteceu quando Klaus deixou de acreditar no mundo, deixou de acreditar no amor, na bondade e na humanidade.

As cinzas que caíam nada mais eram dos que as cinzas das cartas das crianças que outrora existiam em sua caixa de correio. As renas caíram doentes sem explicação, como se acometidas por um mal invisível e assim se sucedeu. Nenhum presente jamais foi entregue a partir daí e o Natal deixou de existir. Os adultos apenas continuam comemorando para ter um motivo infundado na realização de seus propósitos hipócritas, pois afinal, não há outra ocasião mais propícia para abraços falsos, beijos ordinários e sorrisos pré-fabricados, que logo após, perdem-se no dia seguinte. Perdem-se no tempo, em farpas trocadas durante o ano, em situações maldosas, para no ano seguinte, ter a redenção por meio da comemoração de um mito derrubado, decadente e sôfrego que perdeu tudo o que tinha na vida, exatamente por possuir as mesmas paixões e vícios humanos, não se tornando nada além do que somos. Vazios, sem sentido e sem significados.

03:21

La Santa Muerte y la Reencarnación de Encarnación.

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La Santa


Bailamos, bailamos
El santo y yo.
(Siouxsie & The Banshees - El Dia de Los Muertos)

Doña Encarnación Calderón, senhora temente a Deus, pode ser vista sempre às voltas do Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe com seu rosário na mão e o véu preto envolvendo os cabelos. Já passara há tempos do frescor da juventude e apesar de um pouco roliça, mantinha a maciez da pele e o perfume floral que exalava dos poros de seu corpo. Facialmente não tinha nada que lhe desabonasse, passava até desapercebida, mas nunca tão invisível devido aos seios fartos e a ancas protuberantes. O clima árido tipicamente mexicano dava a Doña Encarnación suadeiras intensas, que fazia com que a sua pele fosse sempre lustrosa, conferindo uma luz barroca que fazia com que a sua feição, já então marcada pela idade, ficasse santificada. O sorriso era brilhante e profuso; os olhos como penetrantes estalactites e com matizes de castanho, que ora notava-se o mais puro dos méis ou então o mais escuro dos âmbares.

Desde que seu marido, Don Calderón morrera, Doña Encarnación perdera o interesse pelo mundano, voltando todas as suas ações e intenções para a providência divina. Durante o
casamento, que durou 25 anos, fora completamente feliz: Tinha a casa dos seus sonhos, o marido que a completava em todos os aspectos, sempre tinha visitas para servir os seus tacos apimentados com guacamole e passava as tardes sempre a gritar histericamente com os filhos das vizinhas que insistiam em mijar nas roupas que eram postas no varal, até que seu mundo ruiu.

Don Calderón morreu em uma noite quente e abafada de verão devido a um aneurisma cerebral, e, conforme as mais respeitadas opiniões médicas regionais, causado por intensa atividade sexual. Sim, Doña Encarnácion tinha o sangue latino nas veias e o fogo nas entranhas, o que sempre levava seu esposo à exaustão e garantia a sua aparência esquálida, pálida, cabelos sebosos e a eterna indisposição para tudo, exceto para a tequila, que bebia aos litros. Fora encontrado por sua esposa que gritava histericamente e arrancava os cabelos aos tufos, chorando copiosamente e dramatizando, com todos os artifícios dos mexicanos, fazendo tudo ter uma dimensão muito maior do que a realidade.

A viúva, livre da dor da perda, da angústia de dormir sozinha na cama de casal e da catatonia, encontrava forças nos sermões proferidos pelo pároco da igreja local, e assim se tornou uma religiosa. Todos os dias, fervorosamente, ia à igreja: Orava, dava vários Glória a Deus e chorava em meio à Aleluias, afirmando ser tocada pelo Espírito Santo (o que mais tarde, Encarnación descobriu que era um desequilíbrio hormonal). A partir daí, encontrou seu caminho e sua paz de espírito.

O México se preparava para a comemoração de "El Dia de Los Muertos". A cidade estava completamente enfeitada com caveiras coloridas, adornadas com flores de todos os tipos e altares em exaltação à morte, que aparecia sorridente em todos os cantos, sorrindo escarnecidamente e secretamente para todos os passantes, já que conhecia o fim de cada um e todos os seus atos. Cruzes pobres de madeira fajuta pintadas de branco se espalhavam por todo o canto e no pé de cada imagem ricamente trabalhada havia receptáculos, em que se depositava bebida, flores, cigarros, nomes, orações e objetos pessoais dos defuntos há muito tempo desencarnados e que hoje nem mais o pó restava no fundo dos caixões, sem mencionar as velas de infindáveis cores e o cheiro de cera queimada que salpicava o chão formando mosaicos coloridos. Ao cair da noite, a população já se encontrava nas ruas, bailando, saltitando e comemorando o festejo, tudo em memória de seus mortos e em função da própria morte.

Encarnación então comemorou, sempre recatada, seguindo as tradições da moral e dos bons costumes. Em certo momento observou um homem totalmente tatuado, da cabeça aos pés, que dançava como em transe, rindo de forma descontrolada e com os olhos vidrados, falando uma língua estranha, composta por um coro de vozes graves. A atração foi instantânea. Rodeou o homem como se imantada pela sua energia, e se sentindo impelida a dançar, tomou o misterioso homem pelas mãos. Esqueceu rapidamente os seus votos, os seus princípios ao sentir os pelos da nuca eriçados.

Sentiu imediatamente o fogo do desejo queimando forte interiormente, sabia o que era aquilo, já havia passado por aquilo antes e há anos já tinha renunciado tais desejos, mas era tarde demais: O diabo estava em suas carnes, corroendo-a. Enquanto dançava, ria, rodopiava, e com a barra da saia fazia seu jogo de sedução. Não estava mais consciente de si, aquele corpo não a pertencia mais, e o seu novo dono, não tinha pudores, para o escândalo dos mais próximos. Em pouco tempo já não tinha mais a parte de cima das vestes.

O homem a tomou nos braços e a conduziu para sua casa, e assim houve a consumação do fato: O roçar das peles, o morder dos lábios, os gemidos de satisfação, a fustigação das carnes, as más posições que paradoxalmente eram posições confortáveis, o suor escorrendo pela espinha dos corpos escurecidos pelo sol tórrido da região, o enrijecimento dos músculos, a contração dos glúteos, o esforço dos braços, o nó das pernas, o arqueamento da coluna, os gritos, os fluídos corporais, o toque do Espírito Santo que sempre sentia na greja, o silêncio e a inconsciência.

O Sol já despontava quando Encarnácion acordou assustada por não saber que local era aquele e o que fazia lá. Nenhum sinal do misterioso homem. A cidade estava completamente revirada, como se houvesse passado pelo olho de um furacão, assim como a própria. A sujeira entupia os bueiros, copos por toda parte, pessoas dormindo no chão agarradas às suas garrafas, como se fossem companheiras de longa data, bandeirinhas enroladas aos fios de eletricidade, todas imagens da morte tombadas com a face voltada para o chão, algumas quebradas fazendo com que o pó de gesso se misturasse a sujeira dos cabelos de Encarnácion, que já estavam completamente desgrenhados, e tinha as poucas vestes rasgadas e o próprio corpo todo arranhado, com o sangue coagulado em alguns pontos. Aproveitou para correr para a sua casa e prostar-se diante do genuflexório na intenção pedir perdão a Deus pela falta cometida e também por desonrar a memória do marido.

O choque foi imediato ao cruzar pela soleira da porta e notar-se diante do espelho: Não era mais uma mulher, muito menos um ser humano. Seus cabelos estavam ralos, dentes faltavam em sua boca que babava incontrolavelmente e escorria pela pele decrépita e fina, fazendo com que se percebesse a estrutura óssea desgastada por debaixo dela. Não acreditou, aquilo não podia estar acontecendo, deveria ser uma alucinação, e assim, em uma corrida veloz saiu a caminho da igreja.

Não foi necessário. A resposta veio antes...

No meio do caminho, na praça, notou uma imagem da morte escarnecida que estava mais escarnecida ainda, regozijando-se em júbilo; mas não era a morte de antes. Era si própria, como se estivesse ante ao espelho novamente, com a mesma feição, mas rindo descaradamente. Urrou furiosa e saiu em busca das imagens que estavam no chão com a face pra baixo. Todas eram iguais, todas eram ela mesma, tal qual vira no espelho, tal qual vira na praça. Enquanto corria e gritava ensandecida pelas ruas de Guadalupe, a população despertava da tempestuosa comemoração e saía em romaria logo atrás; alguns caindo de joelhos e outros rogando bênçãos.

Encarnación era agora La Santa Muerte.

Na verdade sempre fora, mas apenas o que havia dentro de si só esperava o momento oportuno para aflorar. Todos tem o seu destino, todos tem a sua benção, a sua danação e a sua redenção. Toda bondade tem as suas falhas de existência e carrega dentro de si a faísca da transformação, independente de sua natureza. Ao passo que toda bondade é apenas uma questão de perspectiva, subjetividade e relatividade, assim como a beleza está nos olhos de quem vê, assim, da mesma forma que se acende uma vela pra Deus, tem que se acender uma para o Diabo, para que haja equilíbrio e o todo não pese apenas em um dos pratos da balança existencial.

03:24

Lust.

Postado por Uncool |

The Desire.


"Trago no sangue o crime da luxúria, pois se ambos somos um, e prevaricas, na carne trago todo o teu veneno, por teu contágio me tornando impura."
(William Shakespeare)


Alemanha - 1942.

Jörn Lutze Weiss era o típico cidadão alemão: Pontual, com complexo de superioridade, arrogante, frio e autoritário, vivendo no apogeu do mundo abaixo do império construído pelo Führer, mas como todo bom alemão, também tinha o seu lado negro da perversão sexual, mantendo práticas impensáveis. Era parte dos homens de confiança do Führer, exercendo o cargo de Reichsführer.

O nosso herói mantinha relações incestuosas, praticava sexo com crianças, animais, coprofagia, golden shower e toda a sorte de paixões fulminantes, isso quando não existia os prazeres do vício que conduziam a morte de quem experimentava esses suplícios: Empalamento, queimaduras, choques elétricos, enforcamento, afogamento, roda, desventramento dentre outros, e tudo isso culminava em prazer, gozo e êxtase.

O fato mais curioso é que Jörn gostava de todas essas práticas, mas nada, absolutamente nada, lhe dava maior prazer no universo do que dominação e submissão. Sempre preferia ser submetido a todo o tipo de sofrimento, somente assim perdia porra de forma abundante sem a necessidade de se tocar; tudo acontecia de forma "natural” dentro do contexto estabelecido.

Afirmava que o prazer é um desejo frustrado. Uma vez que tudo terminava em êxtase, a frustração tomava lugar novamente, e seria necessário novo prazer para acabar com toda a frustração da alma, e com a dor cruciante, o prazer se estendia, livrando o espírito de todas as frustrações.

Em certa ocasião, em umas das reuniões para orgias na casa do Reichminister Viktor Dietrich Von Epp, próxima à Chancelaria, Jörn notou a presença de um estranho durante as sessões, que ficava apenas no canto da sala de jantar, assistindo toda a cena e se masturbando com ajuda de um jovem oficial que deitava cera quente de vela ora em seu ânus ora em seu pênis.

Logo depois de terminada com a orgia, que sempre terminava em morte, o estranho se aproximou de Jörn, e lhe entregou um cartão, com caligrafia rebuscada em letras de ouro, e logo após foi-se embora, antes mesmo que houve possibilidade de questionamentos. Sim, o estranho sabia da paixão de Jörn, e apenas lhe entregou o cartão porque ficara inebriado com a fúria que ele era açoitado e escarnificado enquanto sodomizado e a forma submissa enquanto aceitava a consequência do seu vício.

A única coisa com que ele teve que se conformar foi com a escrita delicada atrás do pequeno cartão: “Já conhecemos o teu furor, venha até Castelo de Neuschwanstein, lá você encontrará através de nossas mãos, todos os prazeres que tua carne pode suportar”. Havia uma data mencionada: 29/04/1942. A data da reunião de Hitler e Mussolini em Salzburg.

No dia informado, pela manhã, Jörn se apresentou no Castelo de Neuschwanstein, que estava impecavelmente limpo, com todos os ornamentos em ouro brilhando como diamantes ao sol.

Lá foi recebido por uma comitiva composta de homens, mulheres, jovens e até algumas senhoras bem apanhadas, totalmente adornadas e perfeitamente maquiadas; apenas em seus olhos via-se a chama viva da destruição e a maldade nos sulcos do rosto, garantido para Jörn plena ereção em imaginar o que estaria por vir.

Apresentações à parte e já familiarizado, Jörn havia sido notificado que as orgias ocorreriam na masmorra, e as refeições seriam servidas ao final no Salão de Banquete.

No horário estipulado, Jörn adentrou a masmorra e na porta, dois jovens aguardavam em trajes de couro: Um empunhava um garrote e outro uma forquilha, quando recebeu a ordem para retirar todos os trajes e entrar completamente nú.

Jörn notou ao entrar na masmorra que as paredes laterais estavam cobertas por seda preta com algumas tochas iluminando toscamente o ambiente, deixando a atmosfera com uma sensação débil de fragilidade, somente a parede estava com a pedra nua, no próprio estilo do local, com correntes penduradas e uma Cruz de Santo André em madeira polida com argolas em todas as extremidades com um quadro do Führer ao fundo. Todos os participantes estavam enfileirados, de frente para o outro, nos cantos da sala, de costas para a renda, todos em trajes de vinil utilizando gasmasks e rebreathers. A cada momento a excitação de Jörn cegava-o mais ainda...

A dominação teve ínicio: Primeiramente umas das velhas personificadas em uma mistress queimou as duas juntas do joelho de Jörn com carimbo de marcar gado em brasa, notificando que não se entra naquela masmorra com a cabeça erguida; ali se rasteja e se demonstra respeito e jamais se encara que ali está. Logo após foi vendado enquanto seu membro latejava de prazer, sustentando a teoria que encontrara o universo perdido da luxúria.

Logo após ser fustigado com chicotes com giletes nas pontas, foi colocado na cruz de Santo André enquanto era forçado por meio de uma gagball a não externar o seu prazer, quando estava prestes a explodir em gozo...

Pendurado, teve uma eletroestimulação peniana, mas um pouco diferente: Foi inserido em seu pau um mecanismo de eletrochoque, descarregando alta voltagem, fazendo com que todo o corpo se contorcesse, causando perda de consciência por alguns instantes, mas sendo acordado com fist fucking, enquanto sofria surras com correias dentadas no corpo. Jörn perdeu a consciência de forma definitiva no exato momento em que a mistress colocou a ponta do salto agulha inteiramente em seu reto e um dos jovens da entrada colocava a forquilha em seu pescoço, fazendo o sangue jorrar pelas duas extremidades, enquanto o segundo jovem, após ter arrancado todas as suas unhas e os dois mamilos cauterizados com um maçarico, fechava em seu rosto uma máscara da infâmia, travando o espeto com cuidado, que ao menor movimento, sairia pela nuca.

Escuridão total...

Jörn acordou depois de horas, enclausurado em uma Virgem de Nuremberg, instrumento semelhante a um sarcófago, porém internamente cheio de espetos, praticamente mumificado, com a língua arrancada, as mãos decepadas, castrado e com o ânus dilacerado. Na parede, escrito em sangue e fezes havia o seguinte: "Teu corpo já está condenado, externamente e internamente. A podridão corre em tuas veias, e a tua luxúria foi a tua perdição. Não lutes, sejas submisso, pois a morte será a tua única companheira e a Alemanha assistirá a tua desgraça, sodomita. Tuas mãos não poderão descrever os horrores, tua boca não contará os tormentos, somente teus olhos não foram vazados, para que vejas a queda que terás. Foi privado dos teus sentidos e da tua liberdade para sofrer a última humilhação de que as pessoas saibam do que aqui ocorreu, mas não por vossa boca e sim pela nossa, que já espalhou o relato de tuas paixões por toda Alemanha".

O que não foi identificado é que um mecanismo de um ligado ao sarcófago acionou um pêndulo, que, logo após a leitura da inscrição caiu sobre Jörn, dividindo-o ao meio e manchando de sangue a imagem do Führer, se juntando à porra que lá já estava, desfigurando sua imagem e deixando o sêmen pendurado em seu bigode e sangue em seus olhos.

Alguns dias depois, o Führer chegou ao Castelo de Neuschwanstein, e pode ver toda a cena ocorrida, e ao ver sua santa imagem maculada daquela forma, teve acessos de loucura e instituiu a Doutrina Nazista, combatendo com fúria os sodomitas e defendendo a raça pura, ariana, uma vez que Jörn Lutze Weiss era meio judeu.

01:52

Gluttony.

Postado por Uncool |

The Reverse.


"Gula. Ensandecida, louca.
Ela engoliu-me todo
com sua faminta boca."
(Rogério Viana)

E assim começa, quando deixamos de ter fome. Com Alice não foi diferente...

Alice, 21 anos, modelo, magérrima e subnutrida. Não tinha muitas variações em suas refeições: Sementes de girassol, painço, gergelim e uma folha de alface. Tudo reduzido ao mínimo, para que sua vontade bestial não se manifestasse, acabando com a sua carreira insutidada nas passarelas de Paris e Milão.

Era mantida sobre extrema vigilância: Nunca ficava sozinha, jamais era deixada próxima de coisas que pudessem ser roídas, mastigadas ou ingeridas. Sempre após comer os seus 150 gramas de comida, fumava cigarros franceses sem filtro, porque alegavam que queimava todas as calorias adquiridas na refeição. Não poderia ser de outra forma, já que faltavam forças para caminhar. Somente no dia dos desfiles da alta costura que existia o luxo de dobrar o peso da refeição, a fim de garantir que a fraqueza não atrapalhasse a performance.
Mas algo a consumia...

O que a consumia não era bem a fome, era o seu próprio organismo, lutando pela sobrevivência; lutando desenfreadamente para manter-se em harmonia, mas o estômago exigia cada vez mais, tornando toda e qualquer ação e/ou movimento, no mínimo fatal. O racional já estava reduzido às suas raízes primitivas. O instinto de sobrevivência estava deveras acionado: funcionava como uma bomba relógio em contagem regressiva, prestes a devastar tudo no perímetro corporal.

O embate entre a razão e o fisiológico é mais antigo que o homem. E mais uma vez, ocorria, mas ocorria de forma violenta, deixando marcas, tanto físicas quanto psicológicas. Alice sentia vontade de comer, mas ao mesmo tempo era forçada que isso era realmente um pecado, tanto no sentido religioso quanto no sentido profissional e corporal. E é nesse momento, que além do embate razão x fisiológico, existia o embate razão x emoção, sendo esse o responsável pelo peso na consciência de não ceder à tentação dos prazeres da carne, e seguir a vida como se isso fosse algo totalmente contrário às leis ditas como obrigatórias para uma vida saudável.

Em um dia nublado, Alice cedeu as tentações e o embate foi resolvido: A razão entrou em acordo com o fisiológico e o emocional ouviu a voz da razão, para o bem do organismo e a maldição e condenação do corpo físico.

Após uma tentativa frustrada de roubar algumas frutas no camarim durante um desfile em Roma, Alice foi submetida a um isolamento, e alimentada somente com água e folhas de boldo. Foi nesse momento que o instinto de sobrevivência, prezando pelo que é nomeado, agiu. A fome pantagruélica há tanto tempo guardada foi despertada, como um gigante adormecido.

Além do estomâgo consumir todas as proteínas do corpo e devorar a si mesmo, devido a inanição, Alice começou lentamente a se canibalizar. Iniciou pelos pés...

Devorou cada dedo como se fossem trufas recheadas dos mais deliciosos licores, rompendo as nervuras e os ligamentos como se fossem pedaços suculentos de carne, saboreando cada naco vagarosamente, demonstrando medo de que o alimento terminasse.

Não havia dor... havia prazer, havia o desejo de continuar a se devorar, porque isso causava o extâse e espantava a agonia, de tanto ter se proibido de tais delícias. A partir daí, cada pedaço do corpo era experimentado com desejo: os antebraços, os joelhos, os pulsos, os seios... e cada nova mordida, uma nova sensação... sensação de fruta madura explodindo na boca e liberando o sumo que escorre pela garganta, e esse sumo, nada mais era do que sangue, que jorrava pelo corpo dilacerado levando ao nirvana aquele estômago insaciável, onde já se misturava os orgãos mortos, devido ao fisiológico, e os tão ricos alimentos conseguidos à base gula.

E assim Alice morreu lentamente, praticamente canibalizada, mas saciada e entregue ao arrebatamento do exageros da arte de comer bem.

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