The Hanged Man
Bom, sem muito o que comentar, o dia hoje foi um grande soco na boca do estômago.
O dia estava muito nublado, e os passarinhos que costumam cantar na minha janela estavam mudos, como se compartilhassem da mesma coisa que eu.
Acordei, meio desnorteado, sem rumo, sem perspectiva e catatônico, como se eu tivesse sofrido um grande choque e hoje tivesse acordado para a realidade.
Não sabia que horas eu ia trabalhar, apenas sabia que tinha que ir, algo me levou até lá, porque eu mesmo não queria ir, e só sabe o que me levou.
Quando entrei no carro eu já levei uma porrada dos dois lados da cara: "Hoje eu tô sozinha, e não aceito conselho, vou pintar minhas unhas e meu cabelo de vermelho... Logo agora que eu parei, parei de te esperar, de enfeitar nosso barraco, de pendurar meus enfeites, te fazer o café fraco, eh!... Parei! De pegar o carro correndo, de ligar só prá você, de entender sua família e te compreender, êh!... Hoje eu tô sozinha, e tudo parece maior, mas é melhor ficar sozinha, que é prá não ficar pior..."
E não acabou por ai: "I guess I just lost my husband, I don't know where he went, so I'm gonna drink my money, I'm not gonna pay his rent (nope!), I got a brand new attitude, and I'm gonna wear it tonight, I wanna get in trouble, I wanna start a fight... So so what? I'm still a rock star, I got my rock moves, And I don't need you, and guess what, I'm having more fun, and now that we're done, I'm gonna show you tonight, I'm alright, I'm just fine, and you're a tool, So so what? I am a rockstar, I got my rock moves, and I don't want you tonight".
E tem muito mais, as porradas foram inúmeras.
Chorei, chorei sem nenhum vergonha e incessantemente dentro do metrô, foda-se as pessoas, todas elas tem suas dores e são completamente hipócritas, fazendo questão de mostrar facetas alegres, como se o mundo fosse a coisa mais doce e inofensiva do universo.
Quando eu estava chegando no trabalho, passei em frente ao Cemitério da Consolação, e parece que eu sentia algo me puxando lá pra dentro, sentia algo me chamando, num doce sussuro trazido pelo vento, me seduzindo com a idéia, e eu entrei no cemitério pra cortar caminho pro trabalho...
Quando entrei, Hong Kong Garden tocando aos meus ouvidos, ao poucos fui sentindo toda a minha tristeza e a minha mágoa ficando pra trás, conforme eu ia passando pelas campas, era como que todos aqueles anjos estivessem ali, olhando por mim, passando por aquele caminho triste e vazio, e velando todo o meu sofrimento, e conforme eu ia chegando ao final do caminho, os via, e parecia que eles estavam mais triste do que quando eu entrei. A única coisa que posso dizer é que quando sai lá, senti uma leveza imensa, como se todas as energias negativas tivessem sido retidas lá dentro, como se elas não pudessem me alcançar e eu tivesse o meu próprio altar.
O dia transcorreu sem problemas.
Quando eu estava indo embora, novas porradas vieram, e eu tomei, sem nem saber de onde veio. Pessoas que sempre estiveram ao meu redor, sem qualquer motivo, razão ou circunstância, vieram me falar que eu sou foda, que sou inteiramente transparente e admirável, eu fiquei sem ação, sem saber o que falar e dizer, e simplesmente ouvi como resposta: "Eu senti vontade de te falar isso." Detalhe, são pessoas que eu apenas dou bom dia. E não foi só uma pessoa.
Na rua, várias pessoas me olhavam, e sinceramente até agora eu não sei o motivo, e também não me faz a mínima diferença descobrir.
Sinais são dados, mas não interpretados, eu entendo o que tudo isso quer dizer, mas não quero acreditar. Ainda vou conseguir vencer a batalha com os meus demônios interiores e ser uma pessoa livre de mim mesmo.
Hoje a nulidade tomou conta de mim, eu tenho certeza que ela ainda se tornará muito presente e constante pelos próximos dias, então só resta me resignar e aceitar.
Mas não me conformar, o Day After foi hoje. Dias melhores virão, disso eu estou certo. Virão mais rápido do que eu espero, porque a história de repete e a minha vida é totalmente previsível da mesma forma como eu, patético.
O soco veio, nocateou, mas desculpe o clichê, aquilo que não mata, nos torna mais fortes, e com certeza, e eu terei o meu momento Rocky Balboa.
Quem viver, verá.
