[Misbehaviors]

"Nothing can come of nothing."

19:48

(Santa) Klaus.

Postado por Uncool |

The Fallen Myth.


Oh Holy Night!

O mundo parou de acreditar em Klaus na mesma medida que Klaus deixou de acreditar no mundo.

Em uma manhã fria, Klaus levantou-se da cama e sentiu-se diferente. O mundo não era exatamente o mesmo como havia sido deixado na noite anterior. A neve ainda caía, mas caía negra, como pesadas cinzas de papéis queimados ao longe, o céu não exibia mais o sol costumeiro da tarde, mas sim era escuro, como se uma borracha suja houvesse tentado apagar um desenho feito por um lápis vagabundo, enquanto o vento soprava furioso, varrendo tudo em seu caminho. Naquele mesmo momento Klaus despertava e via o quanto sua vida estava decadente. Olhava pela janela e via animais mortos, via sacos de panos vazios e rasgados no jardim, seu carro estava totalmente inutilizado, enquanto dentro de casa, o caos reinava absoluto. Garrafas de bebidas baratas espalhadas pelo chão e pelos móveis, na cabeceira da cama havia carreiras de cocaína divididas milimetricamente com uma gilete e várias notas de valores irrisórios para o consumo, cartelas de remédios vazias tinham o seu espaço na pia do banheiro, assim como seringas, que dividiam espaço com os restos de comida, de semanas atrás sob a mesa da cozinha.

Tudo teve início na semana anterior, quando Nöelte, esposa de Klaus, resolveu abandoná-lo por conta de manias absurdas e também por conta de seu senso inabalável de bondade. Não havia mais sentido em engolir essa história de bondade, presentes e perdão para as crianças abusadas. Nöelte vivia reclamando, e era absolutamente contra isso. E quem a visse, diria que era a bondade em pessoa, com os seus traços finos, rosto de boneca de porcelana, gentileza no sorriso e graça e leveza nos movimentos, porém não era assim que funcionava. Era alcoólatra e ninfomaníaca, sem contar o apreço que tinha pela zoofilia, fato que pode ser comprovado pelas sequelas que as renas mortas do jardim tinham. Certa feita quebrou uma garrafa nas mãos por conta de um acesso de fúria enquanto uma das renas tentou escapar da investida sexual, de tão forte que era o seu temperamento.

Logo após o abandono, Klaus se sentiu incompleto e perdeu o viço pela vida. Assumiu o vício da bebida e dos entorpecentes, emagreceu devido a falta de alimentação, e não trabalhava mais. A decadência foi total, e tudo se tornou completo quando a sua caixa de correio começou a esvaziar sem motivo aparente. Não havia mais pedidos, não havia mais súplicas de presentes e nem redenções de atos involuntários. As crianças, por algum motivo, deixaram de escrever para Klaus.

Mas o motivo não era assim tão desconhecido. Em cada casa que havia uma criança, em cada lugar que havia uma imagem de Klaus houve a desistência de acreditar em sua existência. As crianças não lembravam mais do que as mais motivava, e todas as imagens, pôsters, cartões postais e de natal queimaram espontaneamente. Tudo isso aconteceu quando Klaus deixou de acreditar no mundo, deixou de acreditar no amor, na bondade e na humanidade.

As cinzas que caíam nada mais eram dos que as cinzas das cartas das crianças que outrora existiam em sua caixa de correio. As renas caíram doentes sem explicação, como se acometidas por um mal invisível e assim se sucedeu. Nenhum presente jamais foi entregue a partir daí e o Natal deixou de existir. Os adultos apenas continuam comemorando para ter um motivo infundado na realização de seus propósitos hipócritas, pois afinal, não há outra ocasião mais propícia para abraços falsos, beijos ordinários e sorrisos pré-fabricados, que logo após, perdem-se no dia seguinte. Perdem-se no tempo, em farpas trocadas durante o ano, em situações maldosas, para no ano seguinte, ter a redenção por meio da comemoração de um mito derrubado, decadente e sôfrego que perdeu tudo o que tinha na vida, exatamente por possuir as mesmas paixões e vícios humanos, não se tornando nada além do que somos. Vazios, sem sentido e sem significados.

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